sexta-feira, 7 de junho de 2013

FPV - VIDA DE ÁRBITRO E A IMPORTÂNCIA DO PAPEL PEDAGÓGICONOS JEPS

Vida de árbitro e a importância do papel pedagógico nos Jogos Escolares do Paraná
Escrito por Diego Pereira   
Sex, 07 de Junho de 2013 01:28
1 ademir nunes
Toda a competição esportiva precisa ter além de atletas, técnicos, dirigentes, equipes de apoio e jornalistas, uma figura central de ponderação e ajuizamento das disputas: o árbitro. Um personagem paradoxal que muitas vezes baliza as discussões contrárias e favoráveis ao resultado final. Ele é o responsável pelo bom andamento de uma disputa esportiva, pois além de ponderar, repreende, assinala, aconselha, coíbe e, muitas vezes, conquista o carinho e a admiração de colegas e inclusive dos atletas. 

Em uma competição como os Jogos Escolares do Paraná (JEPs) esta figura, amada e às vezes detestada, tem um papel que vai além da simples arbitragem. Na quadra, no campo, na pista, ou em outros espaços de disputas, o árbitro passa a ser também um educador, responsável pelas instruções pedagógicas que acabam por moldar a disciplina dos alunos para além da competição esportiva. 

Somente durante a fase macrorregional dos JEPs, que acontece entre os dias 5 a 9 de junho em oito municípios paranaenses, mais de 500 árbitros se empenham na equação entre a arbitragem e didática. Uma arte, uma técnica de arbitrar e ensinar os alunos e, ou, ainda os colegas que estão iniciando a “viciante” carreira de árbitro. 

O que no inicio pode parecer profissão acabada virando paixão e a vocação por arbitrar se transforma em um estilo de vida. Dois exemplos desses estão em figuras antológicas da arbitragem paranaense. Um deles descobriu a paixão nas quadras de vôlei depois de se aventurar nos campos de futebol. O outro encontrou no handebol o gosto pelo apito. Quem é do meio demoraria em dizer quem são eles se simplesmente fosse descrito os nomes: Emílio Felipe de Melo e Ademir Nunes de Almeida. Alguém arrisca um palpite? Mas se falar em ‘Pitchau’ e ‘Ravengar’ ou simplesmente ‘Ravenga a lenda’, a maioria logo saberá de quem se está falando.

Figuras impares no trato com as pessoas e na postura como árbitros, os dois personagens dessa matéria representam em alto nível esta categoria que faz do esporte sua segunda morada. Viver na ‘estrada’ para eles é uma alegria e um prazer muito além da compensação financeira, mesmo longe de casa e da família.
1 pitchau hand
O cambeense, Emílio Felipe de Melo, ou simplesmente ‘Pitchau’, começou a apitar em meados de 1977 pela extinta Federação Paranaense de Handebol e foi o primeiro árbitro internacional brasileiro da modalidade. Antes de ser árbitro ele havia sido goleiro de handebol e após a formação acadêmica ficou um tempo como dirigente, mas logo largou o ofício de técnico para assumir o apito, por onde permaneceu nos últimos 36 anos, dividindo a função com a de professor na rede estadual. “Pra mim é uma paixão embora financeiramente não signifique nada”, revela. “Eu já viajei por vários lugares do Brasil e do mundo apitando e as amizades que a gente conquista é o que tem valor”, considera o arbitro aos seus 65 anos de idade.

Sobre a participação em Jogos Escolares, ‘Pitchau’, que diz não saber de onde vem o apelido ganho ainda na sua infância, comenta que iniciou a atuação em 1983 e deixa sua impressão sobre a competição. “Esta é uma oportunidade sensacional para que o aluno possa vivenciar outros momentos, outros locais, outras pessoas, e fazer uma avaliação de tudo aquilo que ele vê: da escola que ele fica, dos professores que lá estão, das equipes que se apresentam e a comparação com a equipe deles, este é o verdadeiro valor dos Jogos Escolares do Paraná”, comenta. “Se ele (aluno) não se tornar um grande atleta, ele esteve ai representando sua escola, sua cidade, e isso fica pra sempre na memória deles”, acrescenta. 

Quanto ao trabalho pedagógico do árbitro, ‘Pitchau’ diz que a arbitragem tem a obrigação de atuar, principalmente na categoria ‘B’ (alunos entre 12 e 14 anos), de forma muito mais informativa do que punitiva. “Antes de dar um cartão, antes de excluir o atleta, a gente precisa colocar na cabeça do aluno que ele precisa ter disciplina, companheirismo, respeito, e é isso que a gente vê hoje nos Escolares, uma arbitragem pautada muito mais na orientação do que na punição”, explica. “Já na categoria ‘A’ (alunos entre 15 e 17 anos) a atuação da arbitragem já um pouco mais rígida, porque eles já tiveram essa fase inicial do aprendizado”, complementa. 

Do ofício de arbitro o que não falta para ‘Pitchau’ é a emoção em bem dizê-la. “Arbitragem pra mim eu faço por amor, pois é a possibilidade de sair de uma rotina normal para mudar os ares, ver pessoas de outros lugares, rever amigos, isso é bom pra saúde da gente. Estar aqui com essa alegria, com essa disposição e com essa responsabilidade é uma satisfação pra mim”, diz emocionado o professor aposentado. Aos novos árbitros ele deixa sempre seu conselho. “Eu sempre procuro orientar eles de forma dura, ‘olha você errou nisso e nisso, e acertou isso e isso’, tem que ser assim porque a gente quer ver todo mundo progredindo e quanto melhor a qualidade da arbitragem mais a vontade ficam os próprios jogadores”, finaliza.

1 ravenga desvio juv

Já faz 25 anos que Ademir Nunes de Almeida – que reside em Porecatu há oito anos e antes morava em Rolândia - decidiu largar a arbitragem de futebol para se dedicar ao vôlei. O inicio da carreira foi inspirado, segundo ele, por amigos. “Eu brincava de voleibol e os amigos como o Vitor Martinez e a esposa dele que eram atletas e outros, me incentivaram para que eu fizesse o curso de arbitragem”, conta. 

“Nesses anos todos eu já apitei em várias competições estadual e nacional e sempre participei como árbitro nos escolares”. Foi justamente em uma dessas competições, logo ao acordar no alojamento, quando ainda ostentava uma cabeleira mesclada com inicio de calvície, que Ademir recebeu o apelido de ‘Ravengar’ em alusão ao personagem de Antônio Abujamra na novela “Que Rei Sou Eu?”, de 1989. Com o tempo passou a ser chamado apenas de ‘Ravenga a lenda’.

‘Ravenga’, como não impede de ser chamado, diz que o papel pedagógico da arbitragem é uma orientação constante por parte da Secretaria Estadual de Educação. “O pedido é pra que sempre apliquemos a regra, mas que a arbitragem seja pedagógica, principalmente na categoria B”, comenta. Por outro lado, ‘Ravengar’, questiona o comportamento por parte de alguns professores. “Agora não sei se isso é passado pros professores, que existe esse tipo de arbitragem pedagógica, pois às vezes a gente deixa certas coisas rolarem sem tanta rigidez e o professor não entende esse nosso papel de ser mais educativo do que punitivo, ai nos cobram isso e acaba criando um descontentamento por parte do professor em relação à arbitragem”, argumenta.

Sobre a importância dos JEPs para os alunos em idade escolar, ‘Ravenga’ diz que é uma oportunidade muitas vezes única e de grande utilidade na vida deles. “Eu creio que eles aprendem muito. A convivência com outras pessoas no alojamento de outros municípios, conhecer outras regiões do Paraná além da cidade deles é um aprendizado. Eles aprendem a lavar uma cueca, a lavar uma meia, a lavar um prato, a comer diferente do que estão acostumados em casa e isso é um aprendizado pra vida deles, alguns se destacam na competição e vão jogar profissionalmente, mas todos levarão lições que ficam pra vida toda”, avalia.

O amor pela arbitragem é tão grande por parte de ‘Ravenga’ que durante a entrevista ele não segura a emoção contida e deixa as lágrimas encharcarem os olhos, com a voz embargada diz: “Eu adoro a arbitragem! Eu tenho meu trabalho, sou funcionário público, mas quando eu fico sem viajar... (pausa) ... eu fico lá apavorado vendo noticia na televisão minha galera pra cá ou pra lá apitando, e me vem a vontade de estar junto, é gostoso, eu amo apitar voleibol”, declara emocionado, complementando que a esposa é técnica de vôlei e o filho professor de educação física. 

O conhecimento e o respeito aos ‘velhos mestres’ é identificado quando, por exemplo, uma novata na arbitragem como Juliana Lopes deixa sua impressão. “Apitar com ele dá uma sensação de segurança para fazer nosso trabalho bem feito, sua metodologia de ensinar querendo ajudar a sermos bons árbitros nos deixa mais tranquilos”, comenta. 

A fase macrorregional faz parte da 60ª edição dos Jogos Escolares do Paraná, que é realizado pela Secretaria de Estado da Educação, organizado pela Secretaria do Estado do Esporte, conta com a parceria dos Núcleos Regionais de Educação e Escritórios Regionais do Esporte e com o apoio da Prefeitura Municipal.
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Fonte: SEES / Sérgio Ferreira e Jairo Gomes
 
 



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